Diagnostico: "Saudade"

Nasci com saudade. Doença rara. Sò existe no Brasil. Não tem cura.

Dicionário diz: <<Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoa ou coisa, distinta ou extinta. Pesar de ausência de alguém que nos é querido>>.

Tenho saudade da minha infância. Adoro os contos das minhas presepadas.
Tenho saudade de tempos que nem lembro.

Saudade de dirigir até Nisia Floresta no colo de pAi.
Saudade das ferias de quatro meses por ano.
Saudade do meu "negresco y nickelodion".
Saudade le levar minha irmã pra praia. E acabar sempre brigando.

Saudade de lavar os pratos ao lugar do meu irmão e depois ouvir reclamar minha mãe com ele porque estavam mal lavados.

Tenho saudade da minha adolescência, apesar de que prefiro que ninguém conte de como eu era. Insuportável!

Saudade do recreio, de faltar as aulas, do milésimo segundo antes que a prova era entregue.
Ansiedade em atraso: tinha que se estudar antes - pai falava.

Saudade das festinha em casa, onde todos estavam bêbados, menos eu, que segurava algumas cabeças.
Saudade da primeira ressaca. Saudade das ressaccas passadas na sala de aula.
Saudade de quando eu colocava o casaco para não colocar a farda.
Saudade de fumar de escondido.

Saudade da época em que não olhava preço de nada. Apesar de nunca ter sido uma pidona.
Saudade da minha mãe que quer sempre me dar beijinhos.


Saudade de paçoca com banana, feijão preto e arroz, cocada branca, pudim de ispor, guaranà.
Saudade de pizza margherita, pasta alla carbonara.

Saudade difícil de se matar.
Um guaranà cairia bem, mas bebo suco artificial porque ta tudo fechado.

Meu primeiro amor foi cinematografico

Ele tinha 22. Eu 19.
Ele era comunista e politicamente ativo.
Eu sò sabia quem era Berlusconi e que ele tinha participado dos Bunga-bunga.
Ele era comunista numa epoca - muito recente - em que ser comunista era quase uma ofensa.
Em uma epoca em que não tinha tempo e espaço para ser comunista.
Eu era sò uma colegial, que de nada sabia.

Nos conhecemos no andar do meu predio. Eu voltando das aulas. Ele vendendo jornal comunista por 1 euro. Eu comprei. Sò porque ele era uma graça.
Nos vimos de novo um mes depois. Nos olhamos nos olhos. Não, não apaixonadamente. Nos olhamos nos olhos nos perguntando se nos conheciamos jà.

Meu primeiro amor foi comunista.
Meu primeiro amor foi cinematografico.
Um mes depois alguem me adicionou no facebook.
Aconteceu que ele tinha lido meu blog e a cronica "encontro comunista ato I & II".

Meu primeiro amor foi cinematografico.
Não fizemos sexo por 4 meses.
E ainda là estavamos nòs.

A primeira vez que dormimos juntos foi na minha casa.
Não fizemos sexo; e de manhã cedo joguei ele pra fora.
Eu estava tre-bebada.
Foi nesse dia que ele conheceu meu tio.

Meu primeiro amor foi cinematografico.
Ele se mudou para outra cidade.
Meu primeiro amor não foi cinematografico.
Eu ia dormir na casa dele nos finais de semana.
Nenhuma fuga de meia-noite. Toda a casa estava sabendo onde eu estava.

Meu primeiro amor não foi cinematografico.
Em oito meses: nenhum "te amo".
Ouvi coisa alèm de um simples "te amo".


Meu primeiro amor foi cinematografico:
acabou que nem ligação telefonica norte-americana.
Sem tchau.
Sem tempo de reagir.

Visto a roupa da minha irmã

Visto a roupa da minha irmã.
Ela tem 12. Eu 22.
Entre nós: um oceano e 3.650 dias. Ou simplesmente: 10 anos.
Simplesmente não! Complicadamente.

Minha irmã tem 12 e veste minha roupa. De 22 e de 12.
Minha irmã está de TPM costante.
Quando eu cheguei.. nem sabia que minha irmã podia ter TPM.

Minha irmã è cu de ferro. Ter irmã cu de ferro è foda!
Eu odiava os cu de ferro. Eu era cu de ferro. Na primeira serie.
A cada ano piorava.
Minha irmã è cu de ferro e jà pensa no ENEM.

Minha irmã tem 12, mas tamanho de 22.
Minha irmã è igual a eu. Quando chora se esconde.

Minha irmã tem 12, está de TPM costante, è cu de ferro e tem dor de cotovelo.

Entre nós: um oceano, 3.650 dias e amor imisuravel.  

Conversa de portão

A conversa de portão nasceu - justamente - durante una conversa de portão.
A conversa de porto vale para qualquer derivado de portão- porta da cozinha
- porta de casa
- portão da casa
- portão do predio.

A conversa de portão è aquela conversa que dura horas, depois de ter passado horas se entediando em silencio.
E' o momento do ' agora ou nunca ' .
A conversa do portão è a prova valida de que o ser humano irà sempre - ou quase - fazer o que pode ser feito hoje, amanhã.

A conversa de portão nunca è sò simplesmente uma conversa:
- è o segredo nunca contado
- è o beijo roubado
- è o amor acabado
- è a fofoca proibida ...


A conversa de portão nunca haverá fim, pois o ser - assim - não serà mais humano.

A conversa de portão está acontecendo agora na porta da cozinha entre meu pai e o cara da encadernação de livros.